
QUEM DISSE QUE NÃO SE VOLTA AOS LUGARES ONDE SE FOI FELIZ?
A primeira notícia encontra-se em documento assinado pelo punho de D. Afonso V, onde o monarca cede a um senhor de sua casa, "um pedaço de terra em monte maninho e bravio". Mas, depois, quanta memória de vida desde esse longínquo Dezembro de 1470!
O Palácio do Ramalhão foi sítio de lavoura, morada de aristocratas, refúgio do extravagante William Beckford que lá passou o Verão de 1787, rodeado de jardineiros e cozinheiros e envolto nas sedas e tapeçarias com que ornamentou a estância estival; foi o Paço Real a partir de 1802 e local de exílio da raínha Carlota Joaquina, vinte anos depois. Após o fausto e a história, veio a venda em hasta pública e a decadência. Até que em 1941, o palácio e a quinta são vendidos por 521 contos à Ordem de S. Domingos, cujas religiosas ali abrem, um ano depois, um internato feminino. É aí que eu entro nesta história, ex-menina do Ramalhão e com muita honra. Os internatos femininos ou masculinos, costumam ser olhados de viés e alguma literatura subverteu-lhes o proveito em prol da pálida fama. Eu não sei se a raínha, exilada à força no Ramalhão por se ter recusado assinar a constituição de 1820, foi lá tão feliz como eu, apesar de ela ter garantido e real esposo que "seria mais livre no seu desterro" que ele "ele no seu palácio". Sei que quando lá voltei, há dias, reencontrei o perfume de uma época e intacta a nostalgia do incomparável momento da adolescência. É que o passar dos anos e da vida tornou-me claro tudo o que de substancial e definitivo ali colhi. Agora já não há o dormitório com as camas cor-de-rosa mas há os invulgares murais da "sala da Floresta", inspirados na paisagem do Brasil, que deslumbrou Carlota Joaquina. E as imensas varandas, os românticos caminhos, as alamedas de arvoredo. Também já não há a Madre Cecília, hoje em Coimbra (quanto lhe devo!), cuja vital importância na minha formação se escreve a letras de oiro. Mas encontrei a atmosfera de sempre consubstanciada nos "suspiros" e no pão caseiro do nosso tempo, expressamente cozinhados para este lanche das "antigas" com a Madre Teresa. Daqui saúdo essa boa memória agora que o colégio vai, no dia 19, celebrar em festa 60 anos de útil serviço.
Quem disse que não se volta aos lugares onde se foi feliz?
Maria João Avillez
in Jornal Expresso, de 15-Março-2003
Passaram-se apenas quatro meses. Quatro meses que não apagaram doze anos de "alegria, amor, amizade, trabalho, esforço, oração, dádiva, Fé, lealdade, normas do Ramalhão." Tantas caras, tantos sorrisos, tantos e tantos momentos... Doze anos de uma vivência doce e feliz no palácio do Ramalhão, a minha casa: Um tesouro. Não sei se existem muitos mais a fazê-lo, mas eu vou guardar este tesouro na caixinha da felicidade e, quando as paredes à minha volta me parecerem escuras, vou abri-la e esconder-me lá dentro. Vou voltar a vestir-me de castanho, sentar-me nos bancos junto à presa, brincar no sotão, comer o pão das onze, andar no baloiço do bosque, ensaiar no ginásio velho, dobrar-me de tanto rir nas aulas...
Estou a virar uma página da minha vida e a mergulhar noutra colorida e risonha. Consciente de que, para além da aparência apelativa, nem sempre será fácil estar longe do conforto caseiro e familiar do passado. E se a solidão me tentar esmagar ou os piores sentimentos atravessarem o meu coração, vou fechar os olhos com quanta força conseguir e lembrar-me do lugar, dos rostos e do cheiro que me fizeram feliz.
Maria Inês Carreira, aluna do 1ºano de Jornalismo da Escola Superior de Comunicação Social
Confesso que depois de ler estas duas partilhas de vivências...estou arrepiada...comovida...sensibilizada...com o aperto no coração.
Tenho saudades. Muitas. Tantas.
Foram anos, momentos, dias..unicos, magicos, irrepetiveis, iverbalizáveis...que eu recordo com saudade!
Lembro-me dos passeios pela presa, das conversas com a Madre Teresa, das festas da Irmã Conceição, das rabujices da Irmã Amália, dos bolinhos da Irmã do Rosário nos dias em que estava bem disposto, do pãozinho quentinho que a Carla e a Paula preparavm para mim. para o recreio das 11..
Lembro-me dos beijinhos da Domingas, e dos miminhos da Rosinha..
Lembro-me de ficar de castigo, a lavar copos no refeitótio, por puxar a cadeira á Marta, ou por atirar água a Catarina...
Lembro-me de quando no Verão, começava a "Época dos gelados"...quando corríamos pelas escadas acima, e escada abaixo pra sermos os primeiros da fila, para quando a Anabela chegasse, já lá estarmos...
Lembro-me de passar muitos recreios, no bosque a jogar futebol com os mais pequeninos, e dar cabo dos sapatos todos...de a Irmã Amália ralhar comigo, porque não tinha "os sapatos como uma menina bonita deve ter"...:)
Lembro-me de fugirmos do refeitório da Irmã do Rosário, só para termos mais uns minutos de intervalo...e de depois sermos apanhadas quando a Oração começava pela janela!Lembro-me portanto também, de a seguir sermos levadas á Madre, e de ela nos mandar embora dizendo "Pra termos mais juízo!", e de nos sentirmos as maiores do mundo!
Lembro-me daquele cheiro intenço dos pãezinhos..do cheiro que pairava no primeiro dia de aulas, aquele nervosismo entusiamo, por mais um recomeço...
Lembro-me dos Dias de São José, onde cantávamos de pé, orgulhosos, sorridentes, com toda a força que tinhamos nos pulmões o Hino do Colégio...
Lembro-me de sentir o Hino, e sentir que fazia todo o sentido, que faz todo o sentido..."Alegria, Amor, Amizade, Trabalho, Esforço, Oração, Dádiva, Fé, Lealdade" ...
Lembro-me da nossa sessão solene, da última missa,das últimas palavras da Madre, das últimas palavras daquelas pessoaS, que tanto nos dizem, que tanto nos formaram, por quem tanto carinho temos, por quem tanta admiração e orgulho temos.
Obrigada..a todos, por tudo!
3 comentários:
sim....O Colégio tem qualquer de mágico....sim...O Colégio marca...sim...o Colégio está sem dúvida mais pobre sem ti lá...
e sem ti..
É bom saber que partilhamos com os outros sentimentos e recordações. Que não estamos sozinhos no mesmo sonho! Gosto de ti, Mafalda ;)
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